Tudo começou pelo e-mail que divulgou o I Colóquio Internacional Brasil – Itália "A realidade educacional das pessoas com deficiências: cruzando experiências e ampliando saberes", na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
Quando o li, pensei: "Brasil, Itália, Educação Especial… Uberlândia é logo ali!!! Não poderei perder isso de forma alguma!"
Os dias do Colóquio foram se aproximando… eu não ganhei na Mega Sena, na Loteria ou qualquer outro jogo de azar (1º porque não jogo, 2º que não seria uma aventura se estivesse milionário)… Mas não passava pela minha mente "como ir?", eu estava certo que iria!
Assim foi! Aliás, fui!
Uma semana muito estressante: cursos, reuniões, compromissos… no dia da viagem por exemplo, estive na última ministração de Bob Fits, ministro de louvor americano; foi uma benção (dias 15 e 16 de agosto).
Carona com a Ínis no Gumercindo até em casa… cheguei às 23h00, o ônibus para Uberlândia estava marcado para 23h30… arrumei o restante da mochila às pressas, comi uma banana e meu pai me deixou na rodoviária às 23h20.
Cassiana – que estava indo para Porto Ferreira ver a irmã, havia chegado minutos depois, ficamos conversando até meu ônibus chegar, somente 0h10. Cheguei no Terminal Rodoviário Tricon, em Uberlândia, às 6h30 na sexta-feira (17/08).
– Como faço para chegar na UFU? – perguntei numa loja de revistas.
– Pega o ônibus verde, ele vai até o terminal central, lá você pega o Parador, que pára em frente a UFU.
– Obrigado!
Saí da rodoviária e o que vejo?!
O ônibus verde parado. Fui até ele; algumas pessoas esperavam do lado de fora… logo o motorista abriu a porta e entramos. Partiu – segundo a informação recebida, para o Terminal Central.
Ao descer, fui andando sem saber se ia para o lugar certo. Perguntei para uma jovem senhora, que havia descido do mesmo ônibus no qual eu estava; lembro que ela havia feito uma brincadeira com a cobradora do ônibus ao passar pela roleta: "Vamos acordar, gente!".
– Qual ônibus devo pegar para ir até a UFU?
Ela, por sua vez, perguntou para a funcionária do Terminal Central. Estávamos ambos no local exato do ônibus. Esperamos alguns minutos e logo chegou. A jovem senhora subiu, eu subi, mas fiquei longe do cobrador… Saberia eu o lugar certo para descer?!
Mas, o sistema de ônibus circular em Uberlândia é nota 10, para começar paguei apenas R$ 1,90 (na minha cidade natal que tem 1/3 de habitantes e deve ser bem menor geograficamente, custa R$ 2,10); os ônibus têm portas nos dois lados e ao se aproximar dos pontos (que lembram os tubos de Curitiba, porém são retangulares em Uberlândia), abrem automaticamente; pessoas descem e sobem. As que subiram, já pagaram R$ 1,90 para o cobrador que fica no "ponto", ou descontaram valor idêntico do cartão.
O ônibus andou, parou, andou, parou… eu estava admirado com aquele sistema… mas ainda preocupado onde descer… Eis que vejo em letras garrafais: UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA; sem titubear, me preparei para descer na próxima vez que o ônibus parasse e abrisse a porta automaticamente do "ponto". Desci e também desceu a jovem senhora que eu acompanhava (ou ela a mim, rsrs), desde o outro ônibus.
– Você trabalha aqui? – uma pergunta estranha, pois no Terminal Central ela também perguntou qual ônibus levaria até a UFU.
– Não, vim fazer um curso!
– Ah! Eu estou chegando de São Paulo agora… vim para participar do Colóquio Brasil – Itália.
– É o mesmo que vou participar!
– Sério?!
Incrível!!!
O foco deste relato não é o evento, que foi excelente; aprendi muito, de verdade, principalmente com os relatos dos professores da Itália; apresentações incríveis dos professores brasileiros também.
Na sexta-feira 17/08, logo na primeira parte da manhã percebi o movimento e a chegada de falantes do italiano… fui entender depois que são alunos do Master (como se fosse uma especialização). No primeiro intervalo, com café e pão de queijo (afinal, estava em Minas Gerais), resolvi: "Não viajei 7 horas para ficar eu cá e os italianos lá".
Aproximei de uma italiana – Rosa, e disse: "Io voglio mangiare con ‘ustedes’" (uma mistura de italiano com espanhol), ah, sem esquecer os "gestos" (comer – mangiare); logo Rosa chamou Stefania, com a qual conversei mais.
Na hora do almoço, voltei a me aproximar do grupo e logo Stefania que deu um ticket – que valia uma refeição no Restaurante Universitário da UFU. "No, no, no necessita!" – eu disse. Mas ela insistiu. Foi uma experiência muito legal; minha gana de falar italiano, porém, misturando espanhol, sinais da LIBRAS, gestos…
Stefania quis aprender alguns sinais; fez a soletração do seu nome no Alfabeto Manual; em contrapartida, aprendi algumas palavras em Italiano. Fiz outros amigos brasileiros, claro! Além da Ângela (a jovem senhora do ônibus), Sílvia (diretora da escola onde Ângela trabalha), Letícia (além de intérprete de LIBRAS, toca berrante e eu vi e ouvi ela tocar), Célia (aprendeu LIBRAS no Rio de Janeiro em um Instituto Batista e fez Oficina com o Pr. Marco Arriens, em 1990, como ela mesma disse, quando o Brasil ganhou a Copa em cima da Itália, aliás, quando o Baggio perdeu o pênalti, o pessoal da oficina assistiu do hotel).
Mas a aventura ainda estava por ganhar mais emoção!
Eu ainda não tinha lugar para dormir; meus planos eram, assim que acabasse a palestra da tarde, eu sairia pelos arredores da UFU procurando uma pensão. Mas no café da tarde (mais café e pão de queijo), a Sílvia (diretora da escola onde Ângela trabalha) me ofereceu lugar em sua casa. "Para retribuir o que fizeram comigo uma vez, num congresso que participei, há quinze anos atrás!".
Fantástico… Num intervalo, comendo pão de queijo, acabei de conhecer a Sílvia e já me ofereceu abrigo. Voltamos todos para o último período de palestras – sexta-feira a tarde; eu hiper feliz, com um lugar para dormir – Sílvia disse que morava perto da UFU. Tinha uma consulta médica para as 18h, perguntou se não me importava, "claro que não!".
As palestras atrasaram… eu estava alerta, assim, que a Sílvia levantasse para ir, eu sairia atrás. Ao se preparar para sair ela disse: "eu vou, mas eu volto"; "tudo bem" – respondi. As palestras, mais a apresentação da Letícia, intérprete de LIBRAS e berranteira (acho que é assim que se auto-denomina também) foram encerrar às 19h15.
Fui esperar a Sílvia na portaria da UFU, em frente ao "ponto" de ônibus que havia descido naquele mesmo dia, só que 7 horas da manhã. Estava muito cansado. Esperei, esperei, esperei… O vigia até veio me perguntar se eu estava esperando um casal com uma van. Respondi que não, que esperava uma mulher chamada Sílvia.
Decidi que às 20h45 voltaria ao plano original, ou seja, procurar uma pensão ao redor da UFU. A tradutora do evento (Italiano-Português-Italiano), Patrícia, foi super atenciosa; ela entrava e saia da UFU, ia para um orelhão e depois em outro; descobri que tentava ligar para um moto-táxi conhecido. Ela veio até mim e disse: "Estou preocupada com você! Se precisar, liga para mim, eu mando o moto-táxi, que é de minha confiança vir te pegar e você fica lá em casa"; me passou o número do celular e foi embora com o moto-táxi.
Adiantei-me em 5 minutos; 20h40 fui atrás de uma pensão. A primeira era na rua paralela à avenida da UFU; que lugar estranho, tudo apagado, apenas uma faixa escrito "pensão" e um cachorro que latia no quintal. Apertei a campanhia três vezes, esperei e ninguém me atendeu. Quando descia para ir até um hotel, cujo letreiro eu via da portaria da UFU, perguntei para umas moças se havia alguma pensão ali por perto.
"Em frente a UFU tem uma"; "Sério?" – o que fiz, voltei e fui procurar. Realmente, achei a pensão "Shalom", bati palma, nada. Liguei no telefone que aparecia no muro e a ligação não funcionava. "Não acredito!"; rumei novamente para o hotel San Diego, que eu estava crendo ser mais em conta que o Hotel Sanare, que ficava na mesma avenida da UFU, afinal, quanto mais distante da avenida e de um lugar tão importante… mais barato seria…
Depois de andar, andar e andar com minha mochila nas costas – parecendo uma tartaruga gigante… eis que vou me aproximando do Hotel San Diego… e o que vejo: outra grande avenida… e o hotel foi crescendo e quando cheguei diante da porta automática de vidro, não acreditava que estava entrando… e cheguei no balcão e a atendente veio me recepcionar… "Boa noite, quanto é a diária?", "Boa noite, a diária é R$ 149,00 mais 3%"; "3% do quê?" – na verdade não interessava do quê, eu não estava acreditando no que ouvia.
"Dos serviços de quarto!", "AH!", R$ 149,00, mais caro que as passagens de ida e volta – R$ 116,00" – pensei, "não posso gastar esse dinheiro" – continuei pensando… nem imagino quanto tempo durou estes pensamentos… A atendente disse: "É que este hotel é 5 estrelas"; "Pois é, fica em outra grande avenida… você saberia me dizer se o hotel na outra avenida é mais barato?" – eu não acreditava que estava fazendo aquela pergunta.
"O Sanare? Se for, deve ser uns R$ 20,00 mais barato!", "Ah tá, muito obrigado, se não for, eu volto… Tchau!"… Queria ser uma ema para enfiar minha cabeça num buraco! Também, saí decidido a entrar no Sanare e pedir um quarto, sem perguntar o valor da diária. Eu havia passado em frente e não era tão grande e imponente quanto o San Diego, mas era muito elegante; desconfiava que era o hotel onde o pessoal da Itália estava hospedado.
Chegando novamente à outra avenida – questão de uns quatro ou cindo grandes quarteirões de distância da outra avenida, logo em frente ao hotel os italianos já estavam de banho tomado e prontos para sair… alguns olharam para mim, me reconhecendo, e outros até cumprimentaram. Devem pensar que estou os seguindo – pensei eu comigo mesmo!
Fui direto ao balcão! "Um quarto, por favor", "Você já se hospedou aqui?", "Não", "Por favor, preencha esta ficha"… Imaginem meu estado, uma madrugada inteira de viagem, um dia inteiro de palestras, um começo de noite de andança e procura por pensão, com uma mochila nas costas… "Eu quero deixar pago, por favor", "Mas não precisa, senhor", "Prefiro", e tirei o cartão. "Débito"; só na hora de digitar a senha, é que vi o valor, R$ 65,00. "Ótimo – pensei – para quem fugiu de uma diária de R$ 149,00 está no lucro" – R$ 20,00 de diferença, hahaha!
Quarto 607, chamei o elevador, entrei, 6º andar. Entrei! Eu não acreditava, era tudo tão lindo, a cama de casal, o banheiro, toalha de banho e rosto, TV a cabo… Foi o melhor banho de toda minha vida, com direito a sabonete e shampoo de erva-doce. Bárbaro!
Pijama, uma cama gigante só para mim… liguei para a recepção e pedi um lanche, enquanto isso fazia um "zapping" na TV; quando o lanche chegou, abri o refrigerante Mineiro do frigobar e "jantei". Perfeito!
Mas o cansaço estava incontrolável… eu não acredito, estou num quarto de hotel fantástico, com TV a cabo e tenho que dormir por causa do cansaço. Mas assisti até o final um documentário assustador sobre o vulcão "Krakatoa" no Discovery Channel.
De manhã, tomei outro banho, arrumei minha "mala-mochila", desci para tomar café, tudo muito refinado! Voltei para o quarto apenas para pegar a mochila e fechar a diária. Mais R$ 8,90 (referente ao lanche e refrigerante da noite anterior) e voltei para a UFU. Cheguei 8h00 em ponto. A Ângela já estava lá esperando. Eu fiquei imaginando o que teria ocorrido com a Sílvia, havia me esquecido, foi um desencontro?!
Algo mais ocorreu… no intervalo do sábado, nos falamos, o carro dela quebrou, ligou para o namorado buscá-la, foi até o médico, voltou para a UFU de van com ele; pediu para o porteiro perguntar por mim. Mas o vigia não deu a informação completa quando me abordou perguntando se esperava um casal com uma van.
Cinco minutos depois eu sai para minha saga! rsrsrs
Sílvia ainda deixou seus telefones com o porteiro caso o "André" retornasse procurando por ela.
Minha visita a Uberlândia estava chegando ao fim e foi encerrada com chave de ouro, almocei na companhia do Paulo, instrutor surdo na cidade, evangélico, um dos participantes do Dicionário de Termos técnicos-científicos em LIBRAS da UNITRI, o qual o Ministério de Surdos da PIB comprou e ele autografou.
Muito agradável essa sensação, de ser recepcionado e conduzido por uma cidade desconhecida por surdos competentes como o Paulo e como ocorreu em Florianópolis com a Mariana. Paulo e eu nos despedimos perto das 14h00 no terminal central, onde eu pegaria o ônibus 100 ou 142 que me levaria até o Tricon – Terminal Rodoviário de Uberlândia.
Fui no 142 e ainda fiz amizade com Fátima, que mora em Londrina-Pr, mas que está em Uberlândia cuidando da mãe que sofreu uma queda; Fátima levava uma outra pessoa para a rodoviária de partida para a Bahia. Até 15h45 havia tempo, horário que meu ônibus partiria. Esperei na rodoviária, ainda escrevi algo na minha agenda enquanto esperava.
A aventura ainda não acabou… o ônibus todo enfeitado com grande adesivos da Festa de Peão de Barretos – chamativo que só ele, ainda parou duas vezes na estrada por falta de água no radiador, o que atrasou minha chegada em Marília. Meu pai foi me buscar na rodoviária já era 23h50.
Como a Patrícia – tradutora e professora de italiano disse no e-mail que me enviou, minha viagem foi uma aventura do começo ao fim.
Sem sombra de dúvida!!
Bacci a tutti!