“Para escrever um verso…”

 

"Para escrever um verso que seja, há que ter visto muitas cidades, muitos homens e muitas coisas; há de conhecer os animais, há que ter sentido o vôo dos pássaros e saber que movimentos fazem as flores ao abrirem-se de manhã, leves, brancas e adormecidas, voltando a fechar. Há que ter recordações de muitas noites de amor, todas diferentes, de gritos de mulheres com dor de parto e de parturientes. E ter estado junto a moribundos, e ao lado de um morto, com a janela aberta, pela qual chegavam, de vez em quando, os ruídos do exterior. E tampouco basta ter recordações. Há que saber esquecê-las quando são muitas, e há que ter a imensa paciência de esperar que voltem. Porque as recordações não servem. Tem que converter-se em sangue, olhar, gesto; e quando já não tem nome, nem se distinguem de nós próprios, então pode acontecer que a certa altura, brote a primeira palavra de um verso." (Rilke)

 

Este trecho foi retirado do livro "Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer a arte" – Miriam Celeste Martins, Gisa Picosque e M. Terezinha Telles Guerra. São Paulo: FTD, 1998, p. 188; que por sua vez, foi retirado do livro "Teoria da inteligência criadora", – J. Antonio Marina. Lisboa: Caminho, 1995, p. 216-17).

 

J. Antonio provavelmente leu em algum livro de Rilke… fui presentado com o livro "A Língua  do Mundo" pela Priscila Mendonça Fernandes em julho de 2005… Mas li este trecho somente em junho de 2006…

 

Por isso este Blog está dedicado aos "Fragmentos"… este fragmento de Rilke é fabuloso; sempre fui ciente da dificuldade de escrever qualquer coisa que seja; poema então, nem se diz; mas Rilke é mais profundo… é preciso viver fatos, ter experiências, para escrever a primeira palavra sobre esses fatos e experiências…

 

Dia 17 de outubro assisti a palestra de abertura do V Encontro Internacional de informação, Conhecimento e Ação, ministrada pelo Profº. Zeljco Loparic – Filósofo…

 

Eu me esforcei imensamente para acompanhar a palestra com conteúdo essencialmente filosófico. O professor usou um "hai-kai" para exemplificar sua fala. "Hai-kai" é um tipo de poema japonês – digo isso na minha ignorância, foi o que entendi, mas ainda irei pesquisar sobre… – o autor do hai-kai que o profº Loparic utilizou vivia como mendigo, não tinha casa… andava pelas montanhas, pelas ruas, dormia sob o brilho das estrelas… e só essa experiência o capacitava a escrever belíssimos "hai-kai"… Rapidamente, minhas conexões cerebrais fizeram associação com este trecho de Rilke!

 

Perfeito! Uma confirmação.

 

Sou da seguinte opinião: bastava a cada pessoa escrever um único livro e não um autor redigir vários… às vezes, e principalmente agora em tempos capitalistas, esses "escritorzinhos" preenchem páginas e mais páginas para ganhar dinheiro… não têem algo digno a dizer, é apenas mais um livro… Agora, se cada pesoa fosse incubida de escrever um único livro, e isso, quando se sentisse madura para… há certa altura da vida, saber e definir: "Agora posso escrever", quantos ricos livros teríamos para ler… Mas essa é minha singela opinião…

 

[…] então pode acontecer que a certa altura, brote a primeira palavra de um verso…!

 

Abraços.

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